domingo, 7 de março de 2010

...Ensaio sobre CANNIBAL HOLOCAUST...



Perguntei-me o tempo todo, quem sou eu nesta história, o desbravador destemido, o selvagem perigoso, o câmera?
Se olharmos do sofá talvez nenhum deles, talvez o distanciamento de ser "só mais um filme" nos torne tão indiferente a esta história quanto somos ás fissuras sociais. Mas chegue perto, olhe com o rosto grudado na tela e poderá se reconhecer tanto no maldito intruso branco, ou no divino e intocavelmente puro homem das florestas e até no câmera. Quando você está lá, em qualquer um dos papéis, não tão horrível comer a carne, não é tão horrível a invasão mutua, não é tão horrível todo o sangue, ele é assustadoramente maravilhoso, de qualquer um dos lados.
A anatomia exposta não assusta o que assusta é perceber como somos idênticos aos brancos, aos índios, e as tartarugas por dentro, iguais.

...e Depois de tudo isso?

Vem a sensação de culpa, já distantes do Inferno Verde ou do Cinza, de novo no sofá, você pensa "como fui capaz? Como fiz todas estas atrocidades com tanto prazer?"
e chora, porque sabe que por mais que você não o tenha feito,você o faria naquelas condições.
E então volta o distanciamento convencemo-nos de que Cannibal Holocaust é só mais um filme, e que jamais faríamos algo assim, e que somos seres humanos tão tão melhores que este filme nos assombra o bom gosto e duvidamos do caráter de quem o tenha feito.
"De péssimo gosto, deveríamos queima-lo!!". Quem sabe junto dele não queimamos nosso primitivismo acionado.
Pois eu digo amém a Ruggero Deodato, e que o amigo tão querido que me emprestou estes momentos de caos possa trazer ao mundo "mais deste mesmo".

2 comentários:

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

...ainda saboreando e digerindo os pensamentos cru's com gosto de sangue...