domingo, 10 de agosto de 2008

...Um Pra Você Três Pra Mim...

A primeira parte está em baixo!!
Eu estava lá o tempo todo com mais oito pessoas e enquanto aquelas crianças apanhavam eu sentia uma dor enorme no coração, nos primeiros tapas eu pensei "Nossa, que mãe violenta, pobres crianças, não têm culpa foi um acidente!”, e as vi apanhar.
Da segunda vez pensei “Nossa! Se eu tivesse 20 reais na carteira eu dava pra ela e intervinha nisso agora mesmo, diria tome aqui, compre outra garrafa e pare com isso”, e as vi apanhar.
Da terceira vez eu pensei “Que mulher maldita, ela gosta de fazer isso, de culpar essa menininha que não tem nem tamanho pra ter feito isso de propósito, só pra bater nela”. E as vi apanhar.
Da quarta vez foi quando a irmã mais velha chorou e eu senti uma imensa vontade de chorar também, pensei na minha irmã e no quanto eu a amava, o quanto eu gostaria que o mundo fosse silencioso e colorido pra ela desde que nasceu, e pensei “Se ela fizer isso de novo eu faço alguma coisa”. E as vi apanhar.
Da quinta eu a vi levantar o braço e pensei “agora!”, mas hesitei num pensamento rápido de “não, não é da minha conta”, e depois que o tapa chegou ao corpo, fez um barulho terrível e eu pude sentir a dor, eu gritei.
“Você é loca?! Você vai ficar batendo nessas meninas até quando por causa dessa merda dessa garrafa? Olha o tamanho delas.”
Ela me olhou com uma cara assustada, como de quem esperava uma agressão física a qualquer momento, me olhou com uma cara muito pior, com muito mais medo do que as menininhas sentiam dela, olhou para o guarda-chuva na minha mão que balançava freneticamente enquanto eu falava e provavelmente imaginou-se apanhando com ele.Respondeu-me então numa voz fraca e com medo, quase que tentando não responder:
“Isso não é problema seu elas são minhas filhas”.
Eu fiquei mais irritada e olhando pra ela com todo o ódio que eu sentia até pelo mundo disse gritando:“Não interessa, você não tem esse direito,você é o tipo de pessoa que deveria apanhar todos os dias do seu marido, eu vou derrubar o resto das suas compras e eu quero ver se você vai me bater.”
Distanciei-me furiosa, porque o pouco do “civilizado” que existia dentro de mim, me avisou que meu próximo passo seria matar aquela mulher no braço.
O ônibus dela passou primeiro do que o meu, e ela foi embora sem falar mais nada, eu tremendo de ódio pude refletir, e não me senti nem um pouco heróica... eu esperei...eu hesitei...e eu deixei aquelas crianças apanharem tendo consciência de que aquilo estava errado.
Que merda de ser humano eu sou? Que merda de artista eu sou?Que merda eu finjo que faço todos os dias quando estudo se eu não sei agir no momento certo...
A culpa era também das outras 8 pessoas que estavam ali e não fizeram nada, mas era principalmente minha, porque quando aponto um dedo para alguém existem outros três apontados pra mim (e são meus próprios dedos), as pessoas não me aprovaram com olhar depois que eu gritei, elas me olhavam como se a louca fosse eu, tamanha era a indiferença de todos, mas eles não tem tanta culpa quanto eu, e a indiferença deles é bem menor do que a minha, porque eu estudei e estudo ainda pra fazer de tudo isso um lugar melhor, eles não, eles eu não sei, eu gasto o meu tempo discutindo propostas de intervenções na vida alheia, eles não, eu me incomodei seriamente com tudo desde o começo eles não...
E aquelas crianças só apanharam porque eu demorei a agir, o meu “bom senso social”, me cegou e me fez autocríticas, enquanto elas apanhavam, eu refleti e não agi, eu falhei na minha própria filosofia, só porque não gosto de extremos não quis ver a hora em que ele se fez necessário, quis esperar a aprovação do mundo, os aplausos, uma cueca por cima da roupa, ou só o ônibus só isso...
No fundo a maior indiferença é a que fazemos com nós mesmos, desrespeitando nossos princípios, e andando na mesma linha que o resto do gado...
Mas um erro serve para muitas coisas, inclusive, para não errar de novo...

4 comentários:

...Da teoria á prática... disse...

Esse é um comentário que a Thati fez...sobre esse texto no meu orkut...tah aqui thati...valew!!!
ééé as vezes também me sinto assim...
tbm penso...se deveria ter "ajudado" a criança q apanhava...ou dado um sermão na mulher q batia...

mas ai penso...será q valeria de alguma coisa a nossa opinião, nosso apelo ou bronca á esse ser humano q bate na "inocente" criança? uma pessoa que fz isso sempre fez isso...eee cresceu com isso por tanto não vai ser uma simples opinião de uma pessoa desconheçida que vai fazer com q ela mude o modo de "criar" sua filha(o)...infelizmente essas pessoas não respeitam seus proprios VALORES! muito menos os valores de qm assiste á um fato desse...

Existêncialismo Sólido disse...

meu isso é muito foda...mas eu no seu lugar, não saberia agir numa situação dessa...acho que me calaria, só que tbm não iria aguntar assistir uma covardia dessas, que por muitas vezes tbm vi na rua...mas infelizmente é muito mais difil fazer com que essas pessoas mudem, ou até mesmo concordem com nossos principios éticos, provavelmente essas meninas tbm irão crescer, e agiram como a mãe tbm...
o mundo não está para brincadeiras...e vai ser cada vez mais dificil fazer alguma coisa por nós mesmos...pq quando ele quiser, o mundo, pode se livrar facilmente da gente...

beijos...e sejamos heróis de nós mesmos!

Larissa Pretti disse...

a prática mostra que toda a teoria sobre a educação se esconde nos livros! Eu entro em desespero de ver uma situação dessas... De estar perto e me sentir completamente impotente. São nessas horas que penso: o que fazer??? Como é que apenas reflexões podem virar ação???
Ainda não sei...
Será que teria adiantado alguma coisa impedir a mulher?? Será que assim ela teria alguma noção de regras sociais?? E que não se pode sair espancando um ser humano??? E que existe o ECA, e que as filhas dela poderiam ser tiradas dela caso alguém denunciasse??
Que sentimento de propriedade é esse de que as filhas são dela, então pode bater?? O que mais os pais podem fazer aos SEUS filhos?? E o que os maridos podem fazer às SUAS esposas?? E as namoradas aos SEUS namorados? Os professores aos SEUS alunos???

Como e que dá pra fazer alguma coisa?? Quem sabe várias cabeças possam pensar em meios interessantes?????

PUTZ!

P.S.: Obrigada por mobilizar com o seu texto tanto sentimento e pensamento (no final é tudo uma coisa só!). Algumas vezes, precisamos de uma paulada dessas para acordar para o mundo!

Giselle Ribeiro disse...

Então fico a pensar...
Que país é este em que vivemos onde as pessoas são livres para bater,outras livres para interromper e ainda algumas condenadas apanhar.Maravilha de Brasil!
Mas pensando em morver-nos entre a teoria e a prática,reflito:O que estamos mudando ao evitar a violênicia,se não suprimos a necessidades de educação e de saúde mental desta família?
O que estamos estamos mudando qdo intervimos algo ruim na vida alheia se nao proponhamos algo de bom?
De que adianta tirar os frutos ruins e nao cuidarmos das sementes?
Nao que esta seja uma postura errada sabe...eu no seu lugar teria sim feito o mesmo,mas acho que a problemática desta situação é muito mais profunda... ... ...
Independente do que somos em essência,o que fazemos em cada instante do nosso dia a dia que reverbere BEM ás nossas vidas e ás vidas alheias????
Independe ás situações qual ás quais nos deparamos sempre...




((Obrigada pelo espaço de reflexão))